Saturday, April 19, 2008

Que intimidade tem um artista com a música recente e atual?

Com um pequeno passeio por páginas de internet é possível perceber que profissionais de outras artes não conhecem as fases e transições mais simples da música de concerto (ou música erudita ou clássica, termos mais usuais, mas menos precisos).
Assistindo a vários programas de tv que tratam de arte também, seja em tv aberta ou paga.
Lendo revistas como a Bravo.

Além dos grandes pilares (Bach, Beethoven, Mozart, Brahms e etc.) residem muito poucas obras no conhecimento de outros artistas. Quem conhece pelo menos um Palestrina, Monteverdi, Gesualdo, filhos de Bach, Charles Ives, Stravinsky, Boulez?
Esses três últimos, compositores do século XX, ponto do qual quero falar aqui. O que cineastas, atores, escritores, pintores, fotógrafos, escultores, arquitetos e quaisquer outros conhecem, quando muito, além de nomes como Karlheinz Stockhausen, Arnold Schoenberg, John Cage, Maurice Ravel, Claude Debussy, Philip Glass e miraculosamente Gyorgy Ligeti???

Vale a pena discutir de quem é a culpa?
Não agora, que em parte é de nós mesmos, musicistas. Mas a mais abstrata das artes já conta com tal característica própria para dificultar a intimidade.
Falar sobre tais culpados só em um texto e momento exclusivos e posteriores.


No site da Wikipédia se procurar sobre "Música do século XX" você encontrará uma sinopse ordinária sobre alguns pontos da música erudita e um pequeno e esperançoso resumo da música popular
Lógico que isso não é comprovação do que digo, mas é apenas um pequeno esboço disso.
Dizer que a característica que mais se sobressai na música de concerto do século XX é o uso da dissonância é no mínimo um ato simplório de quem não a conhece.
A tensão e o relaxamento harmônico de fato existem ainda, mas nem de longe podem ser chamadas de consonâncias e dissonâncias, peças como Désintégrations de Tristan Murail, Atmosphères de Gyorgy Ligeti podem indicar isso. Uma teoria de harmonia atonal do século XX ou de contraponto atonal do século XX nada mais são do que tentativas forçadas de enquadrar a música de concerto desse período nos padrões formais tradicionais.


Rachmaninov, Dvorak, Liszt, Wagner, Mahler e Strauss são os compositores ouvidos pelos mais ousados conhecedores de música não-músicos. Compositores românticos e pós-românticos que são justamente portadores da destruição do sistema tonal. E pára por aí!

E o que é que artistas e intelectuais ditos "vivos" e "influentes" escutam enchendo o peito (e orelhas) de pose e orgulho de ouvir música contemporânea e "cerebral"? Caetano Veloso?
Me desculpem a informalidade mas isso é uma piada! Ou, uma anedota, termo de preferência de pseudo-intelectuais.
Pintores que abraçam a vanguarda das artes plásticas do século XX mas que são completos alienados musicais são um retrato. Mas vários outros tipos podem ser citados. Inclusive o inverso, musicistas contemporâneos que são alienados em qualquer outra arte (mas tal número é sem dúvida menor).

Esse texto é uma generalização proposital, quem não se considera incluído nessa categoria distante de ouvinte que não se ofenda.
A provocação é a estratégia aqui. O foco é o questionamento de porque artistas contemporâneos ignoram a música contemporânea.
Já o mérito da música de entretenimento x arte fica para outro texto.

2 comments:

Refinando said...
This comment has been removed by the author.
Refinando said...

Corrigindo um errinho
Só discordo de uma coisa: não acho que dentre os músicos o número dos que desconhecem as demais artes seja menor. É igual, se não for maior.
Talvez você tenha essa impressão porque no seu meio haja bastante gente que estude e se dedique a sair do confinamento do seu próprio universo.