Monday, December 14, 2009

Com menos amarras por favor

Li esse artigo que transcrevo aqui:

"I believe that most modern composers, by waving goodbye to tonality, may be producing more intellectually stimulating output, but they have unplugged themselves from the songs and harmonies that make us respond most basically, and therefore most powerfully to music. True I feel a shiver go down my spine when I listen to Ligeti, but I’ll never fall in love to him. I’ll applaud Judith Weir’s harmonic experimentalism, but I’ll never have her music played at a loved one’s funeral. This might sound banal, but it’s felt on a national level too. When the Berlin Wall came down twenty years ago, what was played at the most significant concert held in celebration? Not work by Stockhausen, though he was arguably the country’s most significant contemporary composer at the time, but Beethoven’s Ninth Symphony."

http://www.culturewars.org.uk/index.php/site/article/why_doesnt_listening_to_modern_classical_music_matter_any_more/


Se eu fosse tão descrente dos homens, das duas uma: ou faria uma revolução facista para impedir música ruim de existir ou iria desistir de ouvir e tentar promover boa música e iria fazer só música de puro e simples entretenimento.
Mas parece que de meu modo tímido sigo na tentativa. Isso para mim inclui o pensamento de uma maior liberdade em conjunto com consciência sobre nossa posição e reflexões.
Há quem duvide mas o que muitos percebem e querem demonstrar é o fato das pessoas só quererem ter mais opções para escolher, boas e ruins. Eu mesmo tenho as minhas, só minhas.

Então...

Stockhausen podia ser o mais notório compositor alemão no período da queda do muro de Berlim, mas essa notoriedade não atingia em muito a de Beethoven. Isso se deve ao fato da música de Stockhausen ser atonal? Me soa como uma afirmação no mínimo ingênua. Se tocou Beethoven no concerto em celebração a queda do muro, isso se deve a carga semântica que o tema tão explorado da Nona Sinfonia conseguiu angariar nesses quase duzentos anos. O próprio Beethoven tem provavelmente a maior marca em número e qualidade na mente da cultura ocidental. Quem sabe na reunificação das Coreias não usem como trilha sonora a Turangalîla de Messiaen?!
:D

Mas o aspecto mais marcante dessa passagem é a afirmação de que os compositores ao abandonarem a tonalidade se desplugaram das músicas e harmonias que fazem o ser humano responder primariamente.
Se é assim então a música japonesa, indiana ou qualquer outra que não compartilhe tonalidade e harmonias jamais foi capaz de "tocar" as pessoas "poderosamente". Se isso existe que ela então encontre e nos convença sobre essas tais "canções e harmonias que nos fazem reagir mais basicamente e poderosamente a música."

O problema ao meu ver aqui é justificar uma afirmação restritiva com base no que acaba por caracterizar como natureza humana que ela parece quere não ver por completo. Esse é o problema dessa autora. A construção da cultura é deixada de lado nessa discussão tão ligada a cultura.
Torna-se então um debate de idéias mal concebidas.

2 comments:

Refinando said...

Ticiano, acho que você está forçando um pouco a barra, tentando destruir o argumento à partir de alguma interna.
A autora do trecho não disse que a música japonesa, indiana, ou seja lá qual for não estejam também enquadradas dentro "das canções e harmonias que nos faz responder mais intimamente". Ela não disse que essas músicas não tenham esse atributo.
Mas concordo em parte contigo. O que eu vejo é que a música dita contemporânea e moderna nasceu num momento em que diversas condições ocorreram pela primeira vez na história e com isso causaram um hiato entre a música popular - no sentido de emanar do povo - e a música erudita. Estas se tornaram cada vez mais separadas e esse abismo foi aumentando cada vez mais com o poder de distribuir música concentrado nas mãos de poucos grandes grupos.

Ticiano said...

De fato forço a barra, afinal ela não fala o que presumí. Mas é uma resposta a altura da forçada que ela mesma faz ao usar como argumento o que "nos faz responder mais basicamente". Quem seria o "nós"? Mesmo que ela diga nós=homens ocidentais é um argumento muito especulativo, tanto que não demora a aparecer buracos.
Mas se o nós=humanidade aí a minha frase que parece de efeito se torna bem real.

No fim se tem a impressão que a motivação do texto foi só saudosismo.

Valeu pelo comentário!