Saturday, June 20, 2009

Feeling, Musicalidade ou só falta de música?

Me vem um fã de música e me diz que o importante é ter feeling e ainda mais que conteúdo (creio eu conteúdo artístico) vem do tal feeling.
Pergunte a ele então o que ele imagina que seja feeling. Normalmente esse diz ser "sentimento". Neste instante vira uma piada, pois quando diz que o conteúdo artístico advém do sentimento não se pode considerar uma frase séria.
É mais uma das tantas frases do "senso comum" que tanto mal faz a música já que o senso comum nosso é tão rasteiro e justifica um monte de injustiças.

Os mais entendidos preferem usar o termo musicalidade. Termo que nasce junto com o sol mas que não tem fim tão glorioso, morre junto com o feeling.

Musicalidade não é instinto, muito menos é dom. Musicalidade é conhecimento, sim conhecimento. Conhecimento adquirido por prática informal ou formal ou adquirido também de maneira prática-teórica, PORQUE NÃO EXISTE TEORIA MUSICAL SEM PRÁTICA. Quem dúvida do que escrevo vá em busca da música em outras culturas. A musicalidade do músico além da fronteira ocidental não é a mesma da nossa, seres que acham ser únicos no mundo. Essa musicalidade que cada um aprende, um pouco ou muito, da sua própria cultura só tange a musicalidade de outros em alguns pontos comuns. Esses pontos que são comuns por nossas constituições físicas (e porque não metafísicas). A tal da musicalidade da música tonal então...

Dá até vontade de gaitar de rir. A música tonal tão enraizada, em forma de múmia, como sendo a única forma de organização musical válida. Tão brandada aos quatro ventos, harmonia funcional!, não é mais que um punhado de receitas prontas repetidas de forma inconsciente pelos seus maiores idolatradores. Gera inclusive material para um conto sobre pessoas que idolatram algo como sendo verdadeiramente da natureza quando este nada mais é do que uma invenção e construção humana.

Mal nenhum faria abrir os ouvidos a mais e mais referências da música. Acaba por "enxergar" melhor a música dos sons e os sons da música.
É como leitura, quanto mais você lê, mais descobre a diferença entre Fernando Pessoa e Renato Russo.

Quem se "revolta" e escreve e fala como escrevi é porque estuda e experiencia música, tanto que faz disso sua vida e seu caminho de aprendizado. Caminho interminável se bem lembro, tão interminável que não dá pra querer resumir a extensão e profundidade da música com o senso comum.

Saturday, April 19, 2008

Que intimidade tem um artista com a música recente e atual?

Com um pequeno passeio por páginas de internet é possível perceber que profissionais de outras artes não conhecem as fases e transições mais simples da música de concerto (ou música erudita ou clássica, termos mais usuais, mas menos precisos).
Assistindo a vários programas de tv que tratam de arte também, seja em tv aberta ou paga.
Lendo revistas como a Bravo.

Além dos grandes pilares (Bach, Beethoven, Mozart, Brahms e etc.) residem muito poucas obras no conhecimento de outros artistas. Quem conhece pelo menos um Palestrina, Monteverdi, Gesualdo, filhos de Bach, Charles Ives, Stravinsky, Boulez?
Esses três últimos, compositores do século XX, ponto do qual quero falar aqui. O que cineastas, atores, escritores, pintores, fotógrafos, escultores, arquitetos e quaisquer outros conhecem, quando muito, além de nomes como Karlheinz Stockhausen, Arnold Schoenberg, John Cage, Maurice Ravel, Claude Debussy, Philip Glass e miraculosamente Gyorgy Ligeti???

Vale a pena discutir de quem é a culpa?
Não agora, que em parte é de nós mesmos, musicistas. Mas a mais abstrata das artes já conta com tal característica própria para dificultar a intimidade.
Falar sobre tais culpados só em um texto e momento exclusivos e posteriores.


No site da Wikipédia se procurar sobre "Música do século XX" você encontrará uma sinopse ordinária sobre alguns pontos da música erudita e um pequeno e esperançoso resumo da música popular
Lógico que isso não é comprovação do que digo, mas é apenas um pequeno esboço disso.
Dizer que a característica que mais se sobressai na música de concerto do século XX é o uso da dissonância é no mínimo um ato simplório de quem não a conhece.
A tensão e o relaxamento harmônico de fato existem ainda, mas nem de longe podem ser chamadas de consonâncias e dissonâncias, peças como Désintégrations de Tristan Murail, Atmosphères de Gyorgy Ligeti podem indicar isso. Uma teoria de harmonia atonal do século XX ou de contraponto atonal do século XX nada mais são do que tentativas forçadas de enquadrar a música de concerto desse período nos padrões formais tradicionais.


Rachmaninov, Dvorak, Liszt, Wagner, Mahler e Strauss são os compositores ouvidos pelos mais ousados conhecedores de música não-músicos. Compositores românticos e pós-românticos que são justamente portadores da destruição do sistema tonal. E pára por aí!

E o que é que artistas e intelectuais ditos "vivos" e "influentes" escutam enchendo o peito (e orelhas) de pose e orgulho de ouvir música contemporânea e "cerebral"? Caetano Veloso?
Me desculpem a informalidade mas isso é uma piada! Ou, uma anedota, termo de preferência de pseudo-intelectuais.
Pintores que abraçam a vanguarda das artes plásticas do século XX mas que são completos alienados musicais são um retrato. Mas vários outros tipos podem ser citados. Inclusive o inverso, musicistas contemporâneos que são alienados em qualquer outra arte (mas tal número é sem dúvida menor).

Esse texto é uma generalização proposital, quem não se considera incluído nessa categoria distante de ouvinte que não se ofenda.
A provocação é a estratégia aqui. O foco é o questionamento de porque artistas contemporâneos ignoram a música contemporânea.
Já o mérito da música de entretenimento x arte fica para outro texto.

Friday, April 18, 2008

Livro e consciência


Parece um livro, tem o cheiro de livro, a forma de um livro a textura de um livro. E é um livro, sem mais jogos.
Mas essa foto foi feita e colocada aqui para ajudar a representar o problema seguinte:
O livro é um ícone. Não esse, mas todos os livros. Venerado como símbolo de toda cultura. Uma estátua, incrível, em lugar de destaque e suja pelos pombos.
E eis o problema. Falta intimidade com ele.
O poder de libertação que o livro pode trazer é desconhecido para muitas pessoas. Ele se torna um objeto fechado e sem graça aos olhos de quem a televisão encanta.
Abrir e experimentar nos traz novidades sem fim, sabedoria, cultura, imaginação... Mas não preciso lembrar essas vantagens que são propagadas por aí.
Mas além dessa propagação falta levar intimidade. Falta abrir e desmitificar o livro.
A situação precisa tanto melhorar, que a leitura superficial de best sellers e romances de banca de revista já são um ganho.
Mas precisamos provar que Albert Camus, Ignácio de Loyola Brandão, Érico Veríssimo e outros não são o monstro do armário.

A experiência diferente própria da leitura enriquece sempre.
Pois o tempo individual do livro, ou melhor, que a leitura de um livro proporciona diferentemente a cada indivíduo é crucial para esse assimilar e refletir o que se apreende.


Tuesday, November 06, 2007

Uma grata surpresa ao encontrar pela net um pouco sobre Xenakis.
Pra quem não conhece ele foi compositor e arquiteto (trabalhou com Le Corbusier).
Um dos grandes estudiosos das relações matemáticas na música. Se falar em estocástica em música ele é o cara.

http://giron.blogspot.com/2006/10/xenakis-arquiteto-de-massas-sonoras_10.html

Thursday, November 01, 2007

Música menor, de vanguarda.

É no mínimo uma audácia, sem deixar de lado a ofensa, dos que afirmam que a música de vanguarda é obra egoísta e indiferente ao grande público.
Seria então simplesmente uma sórdida necessidade de atrair atenção para si? – Explicadas por conjuntos de sintomas freudianos de frustração materna e/ou sexual?
Ou se apegando ao que dizem, se trata apenas de masturbação mental do compositor, afinal de contas se ele cria só agrupamentos de estruturas complexas que "somente outros compositores doidos" podem entender. Só esse conjunto de "interjeições intelectualóides" basta para toda a motivação criativa?

Pode ser uma mistura dos dois, na verdade precisamos de atenção, de admiração. Em reflexão profunda tudo se resume a carros personalizados (ou seja, apapagaiados) que exibimos aos outros bichos músicos do ambiente para compensar as medidas reduzidas de nossos aparatos sexuais.

Se assim fosse, uma farsa tamanha não duraria 100 anos duraria? Mesmo na distorcida e imprevisível realidade humana? Grandes obras musicais desse último século então não foram fonte de prazer sensorial e intelectual de diversos seres humanos, até mesmo não músicos. (como pode humanos se regojizarem com essa música? Heresia!!!!)

Ah então entendo, se resume ao seguinte, na verdade eu não componho para alcançar as pessoas e tentar incitar seus ânimos e abrir janelas nas muralhas das suas experiências pessoais?

Não!
Eu não tinha nem que estar escrevendo isto.
Afinal, como disse outra vez, somos fingidores, fazemos pose até que entendemos os sons que descobrimos e organizamos. Mas na verdade não temos a mínima idéia do que era pra ser tudo isso.

Wednesday, August 01, 2007

Peças

A ligação entre um compositor e suas obras não é igual a ligação entre um pai e seus filhos, como já ouvi por aí.


As peças, apesar de se tornarem independentes quando ganham o mundo, não são como filhos. Elas se aproximam mais do próprio compositor, são como avatares que representam na dimensão musical o que é o compositor, não necessariamente os afetos do compositor. Ou seja, não necessariamente seus sentimentos e sim ele mesmo, em fluxo sonoro. No eixo do tempo, é claro.


Ao meu ver...

Wednesday, August 16, 2006

Ê Sul-Maravilha ...

Acordei com saudades do Henfil hoje.


Daquela coletânea, que tenho ali guardada, de tirinhas do Fradim e do personagens da Caatinga, Zeferino, Bode Orelana.

E olhe que eu não entendia 99,9999% das sutilezas ácidas da mensagem quando a ganhei, apenas 9 anos.


Não adianta eu falar muito, já que Henfil tem essa imensa importância e tantos já falaram tanto sobre ele.


Existe um curta chamado "Cartas da Mãe" que fala dele através de suas cartas. Quem quiser pode conferir no site www.portacurtas.com.br da Petrobrás, não dura nem meia hora e é de graça (de grátis! 0800)!


Eu não fui do tempo dele e tinha só alguns anos quando morreu. Mas graças aquela coletânea eu fiquei conhecendo.



Eis uma passagem legal. (eu achei a tirinha e substituí o texto sem graça pelo traço)

Sunday, March 12, 2006

O Quarto Poder


Graças ao RSS de notícias do blog do Danilo Medeiros dentro do Wasabi eu fiquei sabendo do documentário Beyond Citizen Kane, produzido pela BBC, que conta o papel extra-oficial da Rede Globo de Televisão na política nacional brasileira. Este documentário teve sua distribuição proibida no Brasil, mas agora pela internet é possível copiá-lo e julgar por si mesmo a "influência" da Globo sobre a população.

Eis o link:




Muito Além do Cidadão Kane



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